|
Texto Anterior | Índice
ARTES
Exposição na Dan Galeria aproxima obras do escultor construtivista às composições de Terry Riley e de Steve Reich
MMM mostra seu minimalismo musical
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No texto "A Razão como Dogma Poético", que abre o livro "Ascânio MMM" -lançado pela editora Andréa Jakobsson Estúdio
simultaneamente à mostra do escultor construtivista na Dan Galeria-, Paulo Sergio Duarte compara o trabalho do artista às partituras musicais de Terry Riley e de
Steve Reich, dois pilares da música minimalista. A analogia diz
respeito principalmente à repetição de uma unidade, ou de um
grupo de unidades, em uma obra,
como base de sua concepção.
Na música, Riley e Reich usam a
repetição seqüencial de frases
musicais, compostas por notas,
escalas e ruídos. Nas esculturas de
Ascânio, unidades idênticas de ripas de madeira funcionam como
células de seus geométricos tridimensionais. Como no caso das
conhecidas helicoidais brancas
dos anos 70. O contraste entre a
lógica imediata do material, de
suas formas retilíneas, e a figura
resultante, geralmente repleta de
curvas, sustentam a base do racionalismo "musical" do artista.
O ritmo proposto pela ordem
aritmética das peças, e o equilíbrio que deriva de eixos verticais
ou inclinados, ainda é reforçado
pelo jogo de sombras, que resvalam na formação de arquiteto do
artista. "Pintadas de branco, as esculturas se redesenham conforme
o posicionamento do espectador
ou da luz. As sombras quebram os
ângulos formados pelas ripas",
explica Flávio Cohn, curador da
mostra. "É um trabalho que traz
valores de várias escolas, como a
arte cinética e a arte minimalista."
A curadoria da mostra e o livro
exibem as primeiras esculturas de
Ascânio (dos anos 60) como
obras que transcendem a base
construtivista assimilada por
Amílcar de Castro, Lygia Clark,
Hélio Oiticica e Franz Weissmann: relevos feitos com as unidades de ripas de madeira quebram a fórmula da expressão geométrica dos anos 50, que se deu
pela composição de superfícies.
Ainda nos anos 60, os relevos
pintados de branco tornam-se
fundamentais na obra do artista,
multiplicados pelas séries de "Retângulos" e "Quadrados". Fazem
parte desses conjuntos duas peças
interativas brancas, que estão presentes na mostra, em que cubos
encaixados se redesenham conforme o deslocamento das peças.
Nos anos 80, o uso do revestimento branco é extinto, e Ascânio
passa a valorizar as possibilidades
oferecidas pelas cores originais e
texturas da matéria-prima, que é
a própria madeira. A produção
pelas décadas seguintes -chegando até os anos 90- nunca
abandona o racionalismo, mas incorpora novos desenhos e materiais, como peças vazadas de alumínio constituindo piramidais.
É na resistência do alumínio
que Ascânio encontra a possibilidade de projetar peças para áreas
externas. Muitas vezes, as novas
estruturas resultam em formas típicas de arranha-céus, sugerindo
alguma figuração.
Ascânio MMM
Quando: seg. a sex.: 10h às 19h; sáb.:
10h às 13h; até 9/5
Onde: Dan Galeria (r. Estados Unidos,
1.638, Jardim América, tel. 3083-4600)
Quanto: entrada franca (R$ 100; o livro)
Texto Anterior: Satanique Samba toca sua "MPB do mal" Índice
|