São Paulo, quarta-feira, 13 de abril de 2005

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ARTES

Exposição na Dan Galeria aproxima obras do escultor construtivista às composições de Terry Riley e de Steve Reich

MMM mostra seu minimalismo musical

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No texto "A Razão como Dogma Poético", que abre o livro "Ascânio MMM" -lançado pela editora Andréa Jakobsson Estúdio simultaneamente à mostra do escultor construtivista na Dan Galeria-, Paulo Sergio Duarte compara o trabalho do artista às partituras musicais de Terry Riley e de Steve Reich, dois pilares da música minimalista. A analogia diz respeito principalmente à repetição de uma unidade, ou de um grupo de unidades, em uma obra, como base de sua concepção.
Na música, Riley e Reich usam a repetição seqüencial de frases musicais, compostas por notas, escalas e ruídos. Nas esculturas de Ascânio, unidades idênticas de ripas de madeira funcionam como células de seus geométricos tridimensionais. Como no caso das conhecidas helicoidais brancas dos anos 70. O contraste entre a lógica imediata do material, de suas formas retilíneas, e a figura resultante, geralmente repleta de curvas, sustentam a base do racionalismo "musical" do artista.
O ritmo proposto pela ordem aritmética das peças, e o equilíbrio que deriva de eixos verticais ou inclinados, ainda é reforçado pelo jogo de sombras, que resvalam na formação de arquiteto do artista. "Pintadas de branco, as esculturas se redesenham conforme o posicionamento do espectador ou da luz. As sombras quebram os ângulos formados pelas ripas", explica Flávio Cohn, curador da mostra. "É um trabalho que traz valores de várias escolas, como a arte cinética e a arte minimalista."
A curadoria da mostra e o livro exibem as primeiras esculturas de Ascânio (dos anos 60) como obras que transcendem a base construtivista assimilada por Amílcar de Castro, Lygia Clark, Hélio Oiticica e Franz Weissmann: relevos feitos com as unidades de ripas de madeira quebram a fórmula da expressão geométrica dos anos 50, que se deu pela composição de superfícies.
Ainda nos anos 60, os relevos pintados de branco tornam-se fundamentais na obra do artista, multiplicados pelas séries de "Retângulos" e "Quadrados". Fazem parte desses conjuntos duas peças interativas brancas, que estão presentes na mostra, em que cubos encaixados se redesenham conforme o deslocamento das peças.
Nos anos 80, o uso do revestimento branco é extinto, e Ascânio passa a valorizar as possibilidades oferecidas pelas cores originais e texturas da matéria-prima, que é a própria madeira. A produção pelas décadas seguintes -chegando até os anos 90- nunca abandona o racionalismo, mas incorpora novos desenhos e materiais, como peças vazadas de alumínio constituindo piramidais.
É na resistência do alumínio que Ascânio encontra a possibilidade de projetar peças para áreas externas. Muitas vezes, as novas estruturas resultam em formas típicas de arranha-céus, sugerindo alguma figuração.


Ascânio MMM
Quando:
seg. a sex.: 10h às 19h; sáb.: 10h às 13h; até 9/5
Onde: Dan Galeria (r. Estados Unidos, 1.638, Jardim América, tel. 3083-4600)
Quanto: entrada franca (R$ 100; o livro)


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